domingo, 29 de junho de 2008

Egressos dos Laboratórios LEME/LEDAV


Eng.Navais Egressos LEME/LEDAV
- set/2009
Leile Froufe e Rodrigo

Gustavo Vianna, Alexandre, Márcio Lima, Michel e Carlos André

Gustavo Puppi e Patrícia Almeida



Saudades do Prof.Newton Araújo

3 comentários:

Severino Neto disse...

Depoimento Prof.Severino 31/07/2005: Parte1
"Memórias de um ex-aluno, ex-colega, ex-coordenador e eterno amigo e admirador do Newton No ano de 1980 era muito complicado para um aluno do sétimo período de Engenharia Naval da UFRJ não ter, no mínimo, medo do Prof. Newton Araújo. Principalmente para um aluno que, em sua infância, atendendo obedientemente o apelo de sua professora primária, levantava o dedo para tirar uma dúvida e que, ao observar que uma colega (que não levantou o dedo) passou sua frente na mesma pergunta e foi rotulada de “burra” pela turma, nunca mais perguntou nada em sala até sua colação de grau em 1981. Eu, esse aluno que pedia licença, desculpas, agradecia gentilezas e não falava palavrão, estava diante do Prof. Newton “Palavrão” na disciplina de Transmissão do Calor. Mesmo dedicado à disciplina, eu me via numa situação que ocorreu duas vezes em minha graduação: estava em prova final e com um total de 20 pontos em três provas ou seja média 6,7. Pedi revisão e Newton manteve as notas. Como na outra final em situação semelhante (mesmos pontos, mesma média), conquistei um dez em Estatística com o Prof. Paulo Pardal, julguei que poderia repetir o feito mais uma vez. A prova final foi num sábado de manhã e quase toda a turma estava presente na sala C-208 do Centro de Tecnologia, aguardando o Prof. Newton que chegou mais de uma hora atrasado. Nossa representante de turma, Moara, perguntou se haveria mesmo a prova e foi imediatamente expulsa da sala e reprovada. O nosso colega Hélio, um dos alunos mais maduros, comentou respeitosamente com o Newton que nossa colega estava apenas em dúvida e também foi imediatamente expulso e reprovado. Fizemos a prova num silêncio total e eu, na primeira fileira, tentei evitar que o tremor das mãos deixasse minhas letras e números ilegíveis. Fiz uma péssima prova, saí cabisbaixo e, como a divulgação da nota demorou, fiz minha inscrição em Trans.Cal. para o período seguinte. Meus colegas e professores perguntavam porque eu não sorria mais. Foram dias difíceis no mês de julho e, num dia que me pareceu sombrio, com a luminária do bloco C com goteiras e lâmpada queimada sobre o quadro de avisos, recebi a maior nota de minha vida: quatro, eu estava aprovado. Esse foi meu primeiro contato com o Newton.
Em minha segunda disciplina com o Prof. Newton, em conjunto com o Prof. Selasco, Máquinas Marítimas, a turma já estava mais próxima e numa das conversas com nosso colega Flávio, Newton estava alegremente surpreso em saber que alguns alunos não apreciavam somente um “chopinho”, mas também cachaça e dia a dia aumentava a aproximação com a turma. Infelizmente, ao final desse período, Newton perderia seu pai.
A partir de 1987 passei a ser professor da COPPE e ministrava apenas disciplinas optativas na graduação. Minha área de atuação era técnicas experimentais e métodos numéricos em vibrações e eu tinha a intenção de fazer um concurso para professor na área de Máquinas Marítimas, para colaborar na interação máquina-estrutura. Soube que o Newton falava na secretaria, pelos corredores e até na direção da escola que achava um absurdo essa minha intenção na participação em máquinas. Não por medo, mas por respeito à sua opinião de discordância à proposta de minha participação, decidi não me inscrever no concurso. O único candidato foi um orientado meu de mestrado e, num dos dias do concurso, encontrei com o Newton na secretaria. Ele disse: “Então você desistiu de fazer o concurso?”. Eu respondi: “Sim, Newton, pois não estavam entendendo a minha proposta de participação”. Antes que eu terminasse a frase ele respondeu: “És um babaca! Você tinha todas as condições de fazer um bom trabalho”. De queixo caído e rosto vermelho, fui explicando: “Sinto que um dia ainda farei parte do grupo ...”, mas o Newton parecia não ouvir. Deu as costas e se afastava com um sorriso maroto de criança levada. Em várias reuniões de departamento ele fazia referência à minha competência em relação a disciplinas relacionadas à matemática, máquinas e estruturas."

Severino Neto disse...

Parte2:
"Em 1994 passei no concurso para professor adjunto para a área de Máquinas Marítimas, bem recebido pelo Newton, até 1997, quando pela primeira vez fui candidato a coordenador do curso de Engenharia Naval. Soube que ele fez campanha contra minha candidatura na secretaria e nos corredores: “O Severino vai ser um péssimo coordenador! Ele se dá bem com todo mundo. Coordenador tem que peitar o Diretor!”. Embora tenha obtido a unanimidade dos votos dos alunos, mesmo como candidato único, não tive o voto de cinco professores: o do Newton e de mais quatro.
Em meu primeiro ano como coordenador, fiz questão de receber os calouros no primeiro dia de aulas de 1998, de terno, com uma breve palestra dando as boas vindas, numa C-208 muito aquém da dos dias de hoje. Bastava apenas pedir ao professor da primeira aula da 2a feira que cedesse a primeira hora para a coordenação. E o professor era o de Cálculo I: Newton. Sua paixão pela matemática fazia com que ele participasse em Cálculo além das disciplinas de Máquinas. Sua resposta foi: “Dê sua palestra às 10 horas, pois minha aula começa às 8 horas. Vou mostrar a eles que devem chegar na hora.” Soube depois que ele entrou em sala pontualmente e, sem dizer uma palavra, começou a escrever no quadro. Um dos calouros tomou a iniciativa e perguntou: “Professor, qual é o seu nome?” Ele se virou e respondeu: “Newton” e voltou ao quadro.
Nos anos seguintes nosso respeito mútuo foi aumentando e guardei uma frase sua sobre mim durante uma reunião de colegiado do departamento de Engenharia Naval: “O Severino trabalha na interface das áreas e não no cerne da questão de cada área” Nunca tive coragem de perguntar se era elogio ou crítica, preferindo acreditar na primeira hipótese. Sugeriu a sua monitora mais querida, Rafaella, que desenvolvesse iniciação científica comigo para ter atuação em pesquisa. Em 2003 disse que gostaria de me ver novamente como coordenador. Essas observações, vindas de um eterno contestador, realizam qualquer professor. Com a respeitada opinião do Newton, desta vez obtive a unanimidade dos votos de alunos e professores.
No biênio de minha segunda gestão na coordenação da graduação, 2004-2005, tivemos o melhor período de relacionamento pessoal e profissional. Conversamos inúmeras vezes no café e no laboratório sobre o passado da escola e da engenharia, sua neta, saúde, caminhadas em esteiras e reforma curricular. Ele creditava parte do sucesso do Departamento/Programa de Engenharia Oceânica a uma reação natural a um estilo paulista após a vinda do Prof. Tatalo, gerando uma nova dinâmica positiva em todos. Perguntei se ele não gostaria de escrever um livro sobre suas memórias e ele respondeu com um sorriso. Parecia uma criança feliz quando encontrava amigos. Era diariamente bem recebido com festa na secretaria pela Glace e Sonia, por quem tinha um carinho especial e ficou feliz quando soube que a Nilda faria uma visita em breve. Uma vez soube que eu iria ter um encontro com a Profa. Norma na Direção da Escola para falar sobre reforma curricular. Fez questão de me acompanhar e o encontro dos dois foi algo emocionante. Conversavam com muito carinho sobre lembranças do passado, amigos antigos e sobre a qualidade do bacalhau em restaurantes em que almoçava com o Prof. Floriano. Opinou sobre as atividades do recém inaugurado Laboratório de Ensaios de Modelos em Engenharia (LEME), que previa sua atuação, como Professor Associado após sua aposentadoria, em Automação e Controle. Mas sua paixão profissional era mesmo a matemática. Solicitou à coordenação atuar em Cálculo IV, cujas turmas eram numerosas, pois reuniam as engenharias naval e mecânica. Uma vez citou que professor que não reprova não é bom professor. Atendeu excepcionalmente um pedido de revisão de um bom aluno da engenharia mecânica, a meu pedido, que nunca tinha sido reprovado, mas manteve sua reprovação, pois alegou que embora o aluno tivesse feito uma prova final melhor, não teve bom desempenho ao longo do curso."

Severino Neto disse...

Parte3:
"No dia 19 de maio de 2005, encontrei-o no alegremente apinhado corredor do segundo andar do bloco C durante o pequeno intervalo às 10 horas, após sua aula de Cálculo IV. Conversava com seu ex-aluno mais próximo, a quem tinha grande admiração e carinho, Prof. Alexandre Alho. No meio da multidão de alunos e professores, sugeriu rapidamente a mim e à Profa. Marta, na reforma curricular, a retirada da disciplina de Processos de Fabricação e a colocação na ementa de Tecnologia de Sistemas Oceânicos temas como corte, soldagem e outros. Foi meu último contato pessoal com ele em vida. Busquei, em meu interior, a melhor forma de retribuir ao menos parcialmente a grata convivência com ele e a única que encontrei foi substituí-lo em Cálculo IV no período letivo 2005-1. A pauta continha 89 alunos e mais quatro autorizados por processo. Tive acesso a suas impecáveis notas de aula copiadas do quadro pelo aluno Marcílio e ao material do Newton cedido por sua esposa, onde constavam notas de aula do Prof. Sphaier e as provas aplicadas. Em cada questão o Newton respondia a alunos que nunca veriam as respostas em vermelho do tipo “Isso eu sei!” ou “Não sabe!”, acompanhada de um zero numa questão de quatro pontos, “Claro que deu tempo!”, quando havia alguma observação de aluno ou “Metade!” quando havia um pequeno erro no desenvolvimento da questão.
Essa personalidade polêmica fez com o sentimento original fosse, na melhor das hipóteses, o medo dos alunos. Mas quem teve o privilégio de compartilhar uma convivência maior com o Newton, estava destinado a ganhar um amigo e um ídolo. O meu amigo e colega de turma Hélio, hoje um grande Engenheiro Naval e Professor da Engenharia de Petróleo, expulso em 1980 da prova final de Transmissão de Calor, convidou-o, em janeiro de 2004 para o churrasco comemorativo da turma de 1981 por ele organizado no sítio do Justino. Com um belo sorriso Newton agradeceu. A turma de calouros 1998, pontualmente recebida às 8 horas por ele no primeiro dia de aulas, juntamente com outros formandos de 2002 liderados pelo então aluno representante Barradas, homenagearam Newton como Paraninfo de turma. E mais uma vez vi aquele sorriso de criança ao meu lado e do Sphaier, os três de beca. O melhor aluno que colou grau em Engenharia Naval em 2003 foi premiado pela Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (SOBENA) em outra solenidade em 2004 que o Newton compareceu. Todos os componentes da mesa fizeram referência ao Newton, que confidenciou a mim que o aluno foi bem aprovado com ele em Cálculo 1: média 5,1. O próprio diretor da Escola, Prof. Helói, terminou a seção brincando que, embora não tivesse sido aluno do Newton, seu pai havia dito que suas aulas eram ótimas. E mais um sorriso. Um grande evento de Construção Naval ocorreu na UFRJ no final de maio de 2005, onde haveria necessidade da utilização de nossa maior sala para instalação de um telão. Pedi ao coordenador geral da Engenharia Naval e Oceânica, Prof. Segen, que a instalação fosse feita após a aula do Prof, Newton. O Prof. Segen aceitou, mas infelizmente, na data prevista, solicitou aos presentes um minuto de silêncio ao seu inesperado falecimento, contrastando com as palmas que recebeu em seu funeral. Outras homenagens foram feitas e a mim coube o grande trabalho em Cálculo IV, a honra de substituir um gigante insubstituível, que com uma infeliz queda inverteu a seqüência ascensão e queda para queda e ascensão.
Com amizade, respeito e admiração,
Severino Fonseca da Silva Neto"